23 de setembro de 2012

Vitrine



Um espaço envidraçado em que se expõe algo para apreciação e venda. Esta é uma definição básica acerca do termo francês, conhecido em nosso meio, também com a variação vitrina.
É um espaço privilegiado; preparado para impressionar. Há, inclusive, formação específica para os responsáveis por essa área, cujo objetivo é o de causar impacto; convencendo o observador (ou admirador) à aquisição do que é exposto. A atividade de designer de vitrines (vitrinista) foi incluída na classificação brasileira de ocupações, do ministério do trabalho, em 2002. Uma pesquisa revelou que mais de 70% das compras em lojas são motivadas pela vitrine. E como todo comerciante quer vender, o trabalho de vitrinista está ganhando mercado.
Pois bem, expor da melhor forma possível, sem revelar os defeitos, ou possíveis razões de sua inutilidade; levando o observador a pagar o preço proposto. Isto ilustra bem como age o ser humano movido pelo orgulho. Todo ser humano naturalmente busca expor sua vida da melhor forma possível para que seja alvo de admiração. Isso funciona mesmo para os “rebeldes”; pois, querem vender a imagem da diferença motivada por certa capacidade incomum de ver, sentir e interpretar a vida. Todo rebelde quer provar que há razão convincente para sua rebeldia; mesmo que seja somente o prazer; ou mesmo o não necessitar de razões para fazê-lo.
Funciona assim: Você é o vitrinista. E arruma sua vida (a imagem que quer passar) na vitrine, da melhor maneira possível. Com o objetivo de ser contemplado, apreciado e adquirido, cuida para que as imperfeições e os males sejam camuflados. O objetivo é o de levar a aquisição. O medo é o de não ser interessante; logo, o de empacar, isto é, não vender. Afinal, o produto exposto na vitrine que não motiva à compra, é retirado, devolvido, ou vendido em liquidação, como algo de pouco interesse.
Este é o medo de todos! Expor sua pessoa (identidade, jeito, costume, ideias, princípios, etc) na vitrine, e ser rejeitado. Isto leva alguns a expor a si mesmo de maneira enganosa, sugerindo mais do que realmente podem oferecer; como se diz no jargão: vendendo gato por lebre. Vale tudo para não ter o orgulho ferido. Este medo leva outros a expor sua pessoa na vitrine de outra forma, sugerindo a discrição, ou mesmo a timidez; tudo pelo medo da rejeição. Nesses casos, muitos são enganados; pois, são atraídos por perfis que indicam simplicidade ou mesmo humildade; sem perceber que estão levando pura manifestação orgulhosa, de quem tem medo de ser rejeitado ou vendido em liquidação, como alguém desinteressante.
Enfim, fazem da vida uma vitrine. Entendendo que nela não se expõe a realidade; mas aquilo que se deseja vender. E, fazem de si mesmo um vitrinista; preocupado em ser bem sucedido – não vender a realidade, mas aquilo que interessa aos outros. Não se vende o produto, mas sua sugestão aplicada à vida do comprador. Por isso, tanto sofrimento nos relacionamentos. Alguém quer um amigo. Procura nas vitrines e se interessa por aquele que lhe traz mais benefícios; preferencialmente, o que não lhe trará problemas. Compra a ideia, assumindo relacionamento; e, em algum tempo depois, descobre a verdade. Decepção. Isso acontece de pessoa para pessoa; de pessoa para instituição, incluindo a igreja local; de pessoa para Deus, considerando as versões pessoais de Deus anunciadas. Peca quem vende; peca quem compra.
Segundo o Evangelho a imagem que devemos expor na vitrine é a de alguém humilde, no sentido de que é submisso a Jesus Cristo; este sim, Senhor do universo e de nossa própria vida. Quando o que é exposto é movido pela humildade, rompe-se a necessidade e a tendência de aprovação a todo custo; e cria-se a disposição de revelar o Senhor, aquele que deve receber toda adoração. É isto o que o apóstolo Paulo disse aos gálatas: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (2.20).
O que você tem exposto na vitrine?



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