Devo confessar: Sou um cinéfilo. A sétima arte
me fascina. Enquanto assisto a um bom filme, sinto-me como se deixasse o
cronos, e adentrasse uma esfera atemporal. Aprendi a admirar um bom filme pela
fotografia, pela direção, pela atuação dos seus protagonistas, pelos efeitos
especiais, pela trilha sonora, mas principalmente, pelo roteiro.
Sou bem eclético. Não importa qual seja o gênero
do filme, desde que não seja cheio de clichês. Gosto de filmes de comédia,
drama, épicos, ficção científica, mas os que mais me fascinam são os de
suspense. Gosto de sentir a adrenalina que acompanha a expectativa pelo
inusitado.
Quando adentro a sala de projeção, quero ser
surpreendido por um roteiro inovador. Aquela velha fórmula do mocinho que
aparece para salvar a mocinha não funciona pra mim. Nada é mais entediante do
que um roteiro previsível. O filme pode ter uma direção impecável, com atores
extraordinários, mas se for recheado de clichês, eu acabo dormindo. Nem pipoca
me mantém acordado.
Lembro-me de quando assisti ao último filme do
Batman, e saí da sala comentando com meu filho: Isso é que é filme! Quase que
em cada tomada havia uma surpresa. Nada acontecia como previsto. Foi de perder
o fôlego! Destaque para a atuação impagável de Heath Ledger como o Coringa, que
rendeu-lhe um Oscar póstumo. Pode-se até dizer que neste filme, Batman foi o
coadjuvante.
O ser humano tem uma fixação por surpresas.
Parece que fomos feitos já com esta expectativa vinda de fábrica. Estávamos bem
aconchegados e protegidos no ventre de nossa mãe, e de repente... surpresa! O
nascimento foi a nossa estreia. A partir daí, nossos olhos passaram a ficar
sempre atentos em busca de novas surpresas.
Uma vida desprovida de surpresas acaba por gerar
um tédio insuportável. Se as surpresas não nos vêm naturalmente, procuramos por
elas. Queremos aventura. Queremos ser surpreendidos. Antes o stress provocado
pela expectativa do inusitado, do que o tédio da monotonia.
Recuso-me a acreditar que o roteiro escrito por
Deus para a minha vida seja cheio de clichês, de lugar-comum. Quero ter o que
contar aos meus netos. Quero dar trabalho ao meu biógrafo. Quero fazer valer a
pena. Então, que venham as surpresas!
Se for para rir, quero rir até chorar. Se for
para chorar, quero chorar até rir de minha própria emotividade. Se busco por
ação, anseio pela adrenalina que ela me causa. Se for para assustar, que faça
meu coração disparar. Se for romance, que me envolva. Se for ficção, que me faça
embarcar para o futuro. Se for um épico, que me faça viajar ao passado. Se
quiser dar uma de spoiler, faça-me o favor de trocar de lugar. Não queira
estragar a surpresa, contando-me o final.
E se minha vida um dia virar filme (quanta
pretensão!), não quero ninguém dormindo no cinema.
Portanto, luz, câmera, ação!
fonte : www.hermesfernandes.com